Fazer um filme sobre um herói destemido que enfrenta um perigo inimaginável sem cair na mesmisse é um desafio mais inimaginável ainda. Ver uma superprodução hollywoodiana trazer para as telas uma adaptação de alguma estória da mitologia grega sem perceber os mesmos caminhos sendo percorridos de novo, então, é mais difícil do que cavalo voar (e olhe que nesse filme tem um cavalo que voa! ¬¬). O filme acaba e você fica com a aquela sensação de "quero minhas duas horas de volta".
Ok. As quase duas horas de CLASH OF TITANS, que eu vi ontem, não são completamente perdidas. Mas chega perto. Diálogos fracos, algumas tomadas são de uma cafonisse lamentáááável, como diria o Zé Graça, toda a concepção visual do filme, bem como a direção de arte, tentam inovar demais e acabam criando uma versão real-action dos Cavaleiros do Zodíaco, nas cenas de morte estão lá todos aqueles diálogos afetados sobre honra e coragem e "eu paro aqui mas a sua jornada continua blá blá blá...", o monstro final que é ridicularmente grande (ok, ele é um titã, mas não precisava ser tão grande a ponto de poder ser considerado um lugar) que sempre morre de uma maneira vergonhosamente fácil, etc. A cena da morte da Medusa foi legal, mas acaba se afogando num mar de falas sofríveis, como a de Perseus antes de entrar na caverna da besta dos cabelos de cobra e olhos petrificantes: "Don't look that bitch in the eyes!" ¬¬ Sério? Uma saga grega? Don't look that bitch in the eyes?! Eu mereço isso?!
Não... fora outra coisa profundamente irritante é que todas as estórias de língua não inglesa, em todos os lugares da europa, em qualquer período, só se fala inglês britânico. Se a estória se passa na Segunda Guerra Mundial só com personagens alemães, na Itália renascentista, no extremo norte gelado, ou na Grécia dos deuses e titãs, não importa. Todos falam com um inglês londrino indefectível.
Por isso, amigos, resolvi fazer um guia para vocês que, de tanto bocejarem diante de todos os Arthur's e Hercules' da vida, resolveram fazer o seu próprio épico.

Toda essa retidão de caráter, ele herdou do seu pai, que era um trabalhador braçal muito humilde e muito obstinado a dar uma boa vida à família. Geralmente sorridente e até um pouco ingênuo, sempre morre tragicamente, o que pode ser a grande motivação para o personagem principal enfrentar horrores incalculáveis.


A guerreira sexy e ousada também é importante. Há sempre uma tensão sexual entre ela e o herói, que não vai dar em nada, porque um deles vai morrer. Provavelmente ela. Ela é mais madura e tem sempre ideias melhores que o herói, o que o irrita. Toda voluptuosa, ela não é nada indefesa e sabe lutar, ao contrário da...



Ao lado deste, um guerreiro atrapalhado, fanfarrão e/ou beberrão, ou no mínimo, menos compenetrado que os outros, que é o caso deste da foto. Ele será o alívio cômico da trama, lutando de maneira atrapalhada, fazendo piadas incovenientes, dormindo de boca aberta, ou mostrando a bunda para uma criatura de 10 metros. Geralmente é ele quem diz "Oh, shit" quando um grande perigo apareçe.

Algumas outras figurinhas tarimbadas são bastante frenquentes também, mas são secundárias e portanto, opcionais. Mas se você quiser acrescentar o companheiro animal do herói, ou o mosntro/criatura hostil que acaba se tornando amigo do grupo logo no início do filme, ou o sub-vilãozinho chato que fica aparecendo inúmeras vezes fazendo você dizer "puts, de novo esse cara? mata logo!", ou o louco morimbundo que grita profecias no meio da rua, ou mesmo o pai da princesa (geralmente, um coroa chato metido a eloquente e que só fala/faz bobagem), fique à vontade - o épico é seu.
Só lembre de colocar um nome legal no seu filme, e nada como Clash of Titans, num filme em que apareçe apenas 1 (um) titã que por sinal não luta contra outro em momento algum. Mas também, eu assumo minha culpa - me desculpe Louis Leterrier, mas o que é que eu podia esperar de um cara que já fez pérolas como O Incrível Hulk e Cão de Briga? Respondendo a pergunta lá do 2º parágrafo, eu mereço, sim. Eu mereço. :\