sábado, 26 de março de 2011

Falange - Tudo nessa vida pede solução.

Tocando na praia do Abaís, em maio de 2010,
depois de anos sem tocar juntos.     
Se tem uma sorte que eu tive na vida foi ter começado na música tocando em banda. Já tocando "valendo". Sem querer usar aquele tipo de discurso de "ah, no meu tempo", mas realmente, no meu tempo (e eu só tenho 25 anos), as pessoas ainda aprendiam a tocar com outros músicos. Nós montávamos as bandas e saíamos tocando nos clubes, nos eventos escolares, etc. Hoje a gente oberva uma quantidade grande de garotos tocando horrores... dentro do quarto. O fato de ter aprendido a tocar guitarra tendo um execelente baterista sempre por perto foi decisivo. É o caso de todos nós no Falange. A gente aprendeu a tocar tocando. O que sabemos de música hoje, aprendemos um com um outro. Basicamente é isso, se eu fosse tentar resumir minha estória com a guitarra.

Engraçado que lá no início a gente não imaginava que ia precisar passsar por tantas transformações até chegar nesse ponto de agora. A primeira vez que eu subi num palco na minha vida, foi com Rodrigo Antônio na bateria. Minha amizade com João Antônio começou quando eu tinha uns 12 ou 13 anos. Marcell Veloso, eu conheci pouco depois disso, através de Pedro Danillo, que me ensinou, junto com Artur, os primeiros acordes no violão. E mesmo assim, a gente chegou a passar eras sem tocar junto. Rô viajou Brasil afora tocando batera, João se firmando como sideman em Aracaju, Marcell cuidando da carreira dele com os Boinas, eu cuidando da minha e meu disco que nunca sai... É, a vida tem um jeito de organizar as coisas que a gente nem sempre entende. Hoje com um certo distanciamento, eu vejo que tudo foi necessário. Tudo aconteceu como deveria. As pequenas conquistas, os desentendimentos, tudo tinha que acontecer para sermos o que somos hoje. E de outra forma, não teria sido bom. Então foi preciso. "O mundo fica fácil de entender quando se vê de longe", é verdade, mas retornar é bom.

     Tocando dentro da Microlins em 2000 e pouco.
Sim, DENTRO da Microlins.
Um apanhado: o Falange começou no início dos anos 2000 em Estância, quando eu, acompanhado na época por Rodrigo, João e Marcell, decidi montar um repertório de rock que apresentaria em uma série de shows em Estância. Durante as apresentações, porém, esta proposta foi se firmando dentro da banda e eu, que via meu trabalho autoral apontar pra outro rumo, decidi separar uma coisa da outra, e segui o meu início de carreira solo (que já tinha certa consistência) com outros músicos.

E o engraçado é que não havia razão aparente pra me ocorrer a ideia de voltarmos a tocar juntos, só que depois de tanto tempo sem se apresentar com os caras e a gente se vendo tão frequentemente, o pensamento surgiu. Em uma conversa de MSN, já tinhamos combinado repertório e dois shows. No primeiro, a gente já lançou uma música nova, Tudo Pede Solução. Tocamos algumas antigas e alguns covers. O show foi muito bom. E o mais legal é perceber que o Falange fica cada vez mais consistente. Vai adquirindo uma personalidade sólida. O repertório autoral tem crescido, a gente tem se visto mais, estamos projetando os primeiros passos - EP, algum video, talvez - e a empolgação tá luzindo na cara.

"Com fé força e honra, dá pra chegar mais longe", Falange!

Daqui pra frente é peito aberto e sol no rosto.

terça-feira, 15 de março de 2011

Darren Aronofsky - David Lynch passando a coroa...

Nunca vi uma declaração oficial de Darren Aronofsky a respeito de David Lynch, nunca li nenhuma matéria em que alguém comentasse a influência deste sobre aquele. Mas bem, seguindo um raciocínio bem simplista, Lynch tem 62 anos, Aronofsky tem 42. (¬ ¬') Suponho que haja uma relação, embora não muito divulgada, de mestre e pupilo entre eles. Digo isso porque nunca tinha visto um filme de Darren Aronofsky, até semana passada, quando Monize (obrigado, Monize) sugeriu uma sessãozinha aqui em casa com Requiem for a Dream (Réquiem para um sonho), de 2000.

O filme retrata vícios. Simples assim. Vários tipos de dependência, cada uma com suas particularidades. Conhecemos Sara Goldfarb (Ellen Burstyn), uma senhora cuja vida se transformou em tudo que ela mais temia, e por isso alimenta fantasias de participar de um programa de TV, que na verdade, parece ser fruto de sua imaginação (muito esquisito esse programa, por sinal - parece uma versão de Tim Burton dos 5 Minutos de Ódio retratados por George Orwell em seu 1984). Para caber num antigo vestido vermelho, ela toma remédios para emagrecer e acaba se tornando viciada. Enquanto isso, seu filho Harry (Jared Leto, muito convincente) viciado em heroina, busca establidade financeira enveredando na revenda de drogas. Marion (Jennifer Connelly) e Tyrone (Marlon Wayans), namorada e amigo de Harry respectivamente, completam o quadro de personagens de apoio, drogados como ele.

A grande sacada do diretor nova-iorquino nascido no Brooklyn, é se colocar atrás da perspectiva perturbada dos personagens. Exemplo, as cenas de uso de drogas são feitas com muito estilo - shoots super rápidos mostrando as etapas da aplicação e reação do corpo ao efeito da droga. Só vendo mesmo pra se convencer de como uma situação já tão abordada no cinema, muitas vezes de forma dramática e penosa, pode se renovar com a criatividade de diretores como este. As cenas finais (não é spoiler) são simplesmente uma das coisas mais alucinantes que eu já vi num filme. Os quatro personagens passam por situações de provação extrema, pontos agudos de sofrimento até onde os quais seus vícios podem levá-los. A música frenética, os efeitos sonoros perturbadores, os enquadramentos no rosto dos atores, quase assumindo um tom de filme de horror se unem pra compor uma atmosfera super densa e inquietante. Uma coisa de ranger os dentes!

Percebe-se claramente que Aronofsky tenta fazer o espectador sentir a agonia que eles sentem. E consegue. Exatamente nesses momentos é que uma excentricidade Lynchiana explode na tela. Aos meus olhos, pelo menos, a influência é clara. Especialmente, em algumas sequências meio oníricas que irrompem de vez em quando. Pode ser também simplesmente um daqueles casos de gostos em comum (embora eu não acredite que este seja um, dada a extrema peculiaridade do cinema de Lynch, tido por muitos como algo sem precedentes), mas se for o caso, no mínimo a semelhança, é inegável.

Uma diferença crucial, porém, se estabelece: em filmes de Lynch, como Inland Empire (O Império dos Sonhos), Lost Highway (A estrada perdida) e Blue Velvet (Veludo Azul) - sendo este último, o mais "normal" dos três - todo absurdo que ele estampa na tela, todo o surrealismo são a estória. O fator nonsense está, todo ele, imbuído na trama. A estória É, ela própria, a visão caótica de Lynch, acima de qualquer outro aspecto do filme. E não um recurso. Para Aronofsky, o absurdo é um recurso. Não mais que isso. O filme não é, como dizem, "difícil de entender", é bastante direto até. A abordagem lynchiana de Darren apenas enriquece o filme, mas não ultrapassa essa linha. Sem querer desvalorizar a riqueza do filme, ou muito menos vincular qualidade de roteiro a nível de complexidade, Requiem for a Dream pode parecer um "Lynch para iniciantes", por mais infame que essa afirmação possa ser - rsrsrs.

Agora, como eu comentei aqui com o pessoal (Mona, Monize e Ian), a única coisa que eu não digeri direito foi a cena em que Sara, lá pela metade do filme, já completamente tomada pelo impulso de engolir suas pílulas coloridas, tenta conter seu desespero, contando a seu filho porque quer tanto emagrecer e participar do tal programa. Sua fala, extremamente didática nessa hora, estraga um pouco a impressão que a personagem tinha deixado sobre si mesma, de forma sutil, até esse momento. O texto explica as motivações de Sara Goldfarb de uma forma exageradamente clara. O espectador fica com a sensação de ter tido sua inteligência subestimada.



Entretanto, eu vir aqui e dizer que isso foi a única coisa que não gostei do filme, não é inteiramente verdade - não foi bem isso que eu disse, rsrsrs. Não foi, porque seria um puta tiro no pé, eu achar descartável justamente a cena que provavelmente garantiu a indicação de Ellen Burstyn ao Oscar de melhor atriz de 2001. Aí, amigo, é que você tem a oportunidade de assistir a uma atriz com A maiúsculo, no nível de uma Fernanda Montenegro ou de uma Meryl Streep, em ação. Nesse longo monólogo, é difícil conter a emoção que Ellen provoca com seu sorriso trêmulo, o olhar devastado pela solidão, misturados aos trejeitos de desequilíbrio mental já evidente. É de arrepiar! Eu tô aqui, como dizem, "me arrepiando só de contar". Não é qualquer ninja que consegue não, só samurai mesmo como ela.

O filme não vem postular contra as drogas de forma romântica, mas mostra até que condição um vício pode levar um indivíduo, tudo sem nenhum tipo de "eufemismo visual". Você que é sensível, cubra os olhos nas partes mais perturbadoras.

Não sei se é um filme que agrada com facilidade. Só sei que depois dele, Cisne Negro terá que ser um senhor filme para conseguir deixar em mim um impressão ainda melhor sobre Darren Aronofsky. O cara manja!


sexta-feira, 11 de março de 2011

A gente nasceu pra ser feliz? Freud explica.

Longe de mim ter a prentensão de poder analisar Freud. Não passo de um fã super empolgado com as redescobertas que a genialidade desse cidadão proporciona até hoje. A importância desse gênio austríaco, inventor da psicanálise, é algo que eu acredito não precisar de explicações. Vários termos difundidos por ele estão no nosso vocabulário, às vezes usados de maneira equivocada, verdade, mas isso já demonstra a força da presença de suas ideias na nossa vida.

Falando em conceitos, talvez a leitura dessa obra formidável, Das Unbehagen in der Kultur (O mal-estar na cultura), se torne pouco fluida para quem ainda não domina plenamente esses termos. Meu caso. Mesmo assim, palavras como "sublime", "libido", "subconsciente", "recalcado", comuns no nosso dia-a-dia, se tornam mais claras aqui nessa jornada, sinal de que o velho também pensou em quem nunca tinha lido nada dele antes, como faz em todos os seus textos. Leva algumas linhas, inclusive, até que o leitor novo, pouco ciente do apreço de Freud pela literatura, se dê conta de sua utilização de personagens mitológicos para ilustrar aspectos de nossa personalidade, por assim dizer. Como Eros, que representa nosso impulso de construção, uma "pulsão positiva" de contato, a tendência de direcionar nossa libido em direção ao outro. Daí o termo erótico. Conhecemos também Tânatos, que representa o oposto disso. É a nossa pulsão de destruição, um desejo de corromper inerente à nossa natureza.

A nossa natureza, bem lembrando, é um dos alvos mais constantes desse estudo de 1929. Eu, de minha parte, por mais ingênuo que eu possa soar com isso, acredito que mesmo da forma mais terrível que a gente venha a conhecer mais sobre nós mesmos, a gente se torna melhor (ok, depois explico*). Digo isso porque a nótícia que essa leitura nos traz não é das mais agradáveis: nós, seres humanos, não fomos 'programados' para a felicidade. A fragilidade de nossa composição física, a hostilidade do ambiente que nos cerca, tudo que compreende nossa existência não é lá muito favorável pra sertirmos felicidade.

Pra apoiar seu pensamento, Freud empreende uma busca aos primórdios da humanidade, um trabalho de pesquisa antropológica inacreditável, na qual ele próprio se revela um grande criador de mitos. O pai da psicanálise propõe passagens da vida do animal homem que explicam traços de nosso comportamento atual (alguns exemplos de recalque, principalmente) , que se comparam - concordando aqui com Márcio Selingmann-Silva - a autores da Bíblia e de outros grandes compêndios que delineiam as sociedades atuais.

A plausibilidade de suas propostas é que nos impede de torcer o nariz logo de cara. Não tem como permanecer totalmente cético, por exemplo, à ideia de que o tabu atual em relação à menstruação tem a ver com a mudança de postura do homem primata, que antes andava curvado, de quatro, e depois fica ereto. O principal atrativo sexual da fêmea deixa de ser o cheiro de sua genitália durante o ciclo menstrual (com a mudança de postura, o nariz se distancia da região genital) e passa a ser visual - a apreciação do corpo da mulher. O cara sabia o que tava falando, faz sentido - rsrs.

E ir tão longe na nossa história em cima da face da Terra se justifica tão somente na necessidade de entender  nossas origens - como se formaram as primeiras famílias, os primeiros traços de cultura do homem, etc. Só assim a gente consegue perceber de que maneira a cultura (e por cultura entenda-se tudo que o homem criou/descobriu e que o eleva pra além da condição de animal que era) nos protege, representa segurança e ao mesmo nos torna infelizes e frustrados.

O homem é um bicho hostil. Fato. A princípio, sim. A gente gostar uns dos outros, vivermos juntos, isso tudo isso já é cultura. A culpa que a gente sente ao atender a um impulso primitivo é a cultura que temos nos dizendo que isso está errado. A violência é um impulso primitivo. No fundo somos assim. Impulso. A contenção desses impulsos, idependente de serem positivos ou negativos (também conceitos culturais), já representa um grande empecilho à sensação de felicidade.

Entre tantas outras descobertas, esse Freud já maduro (um pouco amargurado até), escrevendo uma de suas últimas obras, nos leva a refletir a respeito de nossa trajetória no mundo. E, mais do que isso, saber um pouco mais sobre a tal felicidade que a gente tanto busca. Em suas primeiras percepções, já constata que o ser humano aprecia "o contraste, e muito menos o estado" das coisas. Como uma pessoa que, deitada na cama numa noite fria, cobre a perna para logo então descobrí-la de novo. :) E isso, eu aposto que desencadeou uma série de outros exemplos no pensamento de você, amigo, que ainda está lendo isso até aqui.

*E é exatamente aqui que eu acredito que toda essas descobertas, insignificantes para alguns, aterradoras para outros, podem se converter am algo positivo (talvez seja essa a razão da postagem). A gente lida melhor com o que conhece, inclusive nós mesmos. Sabendo mais sobre nossa própria composição psíquica, a nossa mesura de comportamento se torna mais precisa. Nos tornamos melhores, pois. Se distanciando da cilada (muito bem observada pelo velho austríaco) de confundir tentar ser feliz com conseguir não ser infeliz, a base da vida de um grande número de pessoas. Eu, já servindo de exemplo do que esse grande ídolo disse, já me sinto mais feliz por não ter sabido disso antes e estar sabendo agora.

Vou ficando por aqui, pois nem que eu escreva 10 páginas, não vai ser suficiente, nem vai se comparar a ler 2 parágrafos de Freud. Como diriam Paulo Endo e Edson Sousa em um dos prefácios, esta é uma "transformadora viagem".

Me transformou de algum modo, sem dúvida.


quinta-feira, 10 de março de 2011

Por onde for o seu pezinho...

Há três anos quando eu e Mona tivemos nossa filhinha Giovana, muita gente ficava perguntando quando eu ia fazer uma música pra ela. E vocês sabem, o cara que é músico tem que fazer música pra tudo! - rsrs - Mas essa era realmente uma ocasião mais que especial. Justamente por isso, não fiz música nenhuma logo de cara porque não tinha conseguido desenvolver um ideia que valesse a pena concluir, que fosse bonita o suficiente. Além do mais, aquela coisa de fazer por "tem que fazer" não me agradava. Só queria fazer se a música fosse boa mesmo.

Foto de Monize Batista, fotógrafa de muito talento. Tem futuro! Olha o enquadramento e a perspectiva... E ela gosta de cinema - um dia ela ganha o Oscar de direção de fotografia de algum filme. Valeu, Nize! Obrigado pela foto!

 Miguel (Viana, meu parceiro e sogro, avô dela) fez algumas letras e me deu, todas muito lindas, mas essa letra tinha que ser eu a fazer, mesmo eu não sendo nem 10% do letrista que ele é.

Sendo assim, guardei numa pasta a folha de papel onde tinha escrito umas primeiras palavras:

POR MUITO TEMPO ENQUANTO
SUA MÃO BUSCAR A MINHA
EU VOU SEGUIR O SEU CAMINHO
REAPRENDER A CAMINHAR

Três anos depois, último sábado, eu estava aqui em casa fazendo música com Marcell e depois de ter feito umas duas músicas, e tocado várias, mais tarde, me surgiu uma sequência simples de acordes: B  C#m, com um movimento decrescente nas quintas. A música já tinha uma certa singeleza por si só. Fui no quarto dos fundos e procurei uma letra de Miguel pra fazer, não achei nenhuma que encaixasse. Quando já estava desistindo e indo no computador pra ver se tinha alguma de Marcell (sim, eu busco todas as alternativas antes de eu mesmo escrever uma letra), eu tirei uma pasta do lugar e lá estava ela - a folha amarelada com os versos de três anos de idade escritos nela. Terminei a letra e o resto da estória, tá logo aqui abaixo. O video não é nada profissional, é de celular, só pra vocês conhecerem a música mesmo (e tá demorando pra carregar, mas eu tenho fé).
Forte abraço pra quem tem filho e pra quem é filho! :D


Abaixo, a letra completa de Por Muito Tempo Enquanto.

POR MUITO TEMPO ENQUANTO
SUA MÃO BUSCAR A MINHA
EU VOU SEGUIR O SEU CAMINHO
REAPRENDER A CAMINHAR
ME DEIXAR LEVAR
POR ONDE QUER QUE VOCÊ VÁ,
ESTOU LÁ

POR MUITO TEMPO ENQUANTO
MEU SORRISO FOR ENCANTO PRA VOCÊ
EU VOU SORRIR
REAPRENDER A DIVIDIR
E SEGUIR VOCÊ
POR ONDE ANDAR O SEU PEZINHO
EU VOU VER

E QUANDO O MEDO DER
EU QUERO SER O SEU ESCUDO
VENCER O SEU DRAGÃO
SEGURAR VOCÊ
TE DEFENDER E SER UM SOL NA ESCURIDÃO

POR MUITO TEMPO ENQUANTO
SUA BOCA ME FALAR
DE AVENTURAS IMPOSSÍVEIS
REAPRENDER A ESCUTAR
E DEIXAR VOCÊ
FALAR COMENDO UMA LETRINHA
E ENTENDER

E QUANDO O MUNDO FICAR MENOR
E EU NÃO FOR MAIS TÃO HERÓI ASSIM
QUANDO O SEU SONHO FICAR MAIOR
E SUA MORADA, LONGE DE MIM
QUANDO OS AMIGOS NÃO BASTAREM
E SEU OLHAR MIRAR PRA TRÁS:
QUANDO VOCÊ SE SENTIR SÓ

EU VOU ESTAR
PRONTO PRA TE ENCONTRAR
E VENCER O SEU DRAGÃO
TE DEFENDER
E SER UM SOL NA ESCURIDÃO

POR ONDE QUER QUE VOCÊ VÁ,
ESTOU LÁ
POR ONDE ANDAR O SEU PEZINHO
EU VOU VER

quarta-feira, 9 de março de 2011

The Secret of Kells, uma animação com várias camadas.


Brendan é um garotinho que vive na ilha de Kells, numa aldeia celta cercada por uma enorme muralha em cuja construção seu tio, o abade Cellach, trabalha incessantemente. Com a chegada de Aidan, um divertido velhinho foragido da Ilha de Iona, Brendan descobrirá a respeito de um livro (o livro de Kells, que existe de verdade, uma peça importante da cultura irlandesa) que ainda não foi terminado. Para concluí-lo, a contra-gosto de seu tio superprotetor, que o quer como seu sucessor, o garoto precisará enfrentar grandes perigos em busca de um cristal supostamente  mágico.

O que me conquistou de cara foi a arte, o traço, que é magnífico! Diferente e lindo! Mas o tesouro mesmo é a maneira como a mitologia celta é explorada (e acima de tudo interpretada, que fique bem claro) no filme. Lendas como a do espírito da menina-lobo, o demônio Crom Cruach são colocadas de maneira muito criativa e rica de interpretações (o monstro, principalmente). Quem já conhece um pouco sobre o folclore irlandês vai se divertir mais ainda.

Outro ponto alto, a música. Espetecular a maneira que Tomm Moore e sua turma conseguiram unir elementos de música céltica a melodias belíssimas. As letras (quando há) seguem essa linha estética simples que permeia
todo o filme e não ficam com cara de musical, algo comum nas animações Disney, por exemplo. Elas se encaixam na trama de forma mais natural, com uma natureza quase mântrica.

Achei fantástico o fato da animação ser um exemplo de como os mitos se criam. Uma análise subposta de como as sociedades se apegam ao inconcebível, ao desconhecido em busca de proteção de uma realidade palpavelmente medonha e grotesca - no caso de Kells, a invasão dos vikings, mostrados aqui como sombras bárbaras de comportamento quase animalesco. Visualmente, o filme é uma coisa quase poética. Além de ser, ele mesmo, um conto de como o livro teria sido criado - um mito que se justifica na explicação de outro, maior e mais abrangente.




O final, eu não achei muito recompensador, mas a experiência vale muito a pena. E além de tudo é um filme divertido. Não é muito pra crianças, mas é muito divertido.

Thumb up! :)