segunda-feira, 27 de junho de 2011

Como criar seu próprio épico.

Fazer um filme sobre um herói destemido que enfrenta um perigo inimaginável sem cair na mesmisse é um desafio mais inimaginável ainda. Ver uma superprodução hollywoodiana trazer para as telas uma adaptação de alguma estória da mitologia grega sem perceber os mesmos caminhos sendo percorridos de novo, então,  é mais difícil do que cavalo voar (e olhe que nesse filme tem um cavalo que voa! ¬¬). O filme acaba e você fica com a aquela sensação de "quero minhas duas horas de volta".

Ok. As quase duas horas de CLASH OF TITANS, que eu vi ontem, não são completamente perdidas. Mas chega perto. Diálogos fracos, algumas tomadas são de uma cafonisse lamentáááável, como diria o Zé Graça, toda a concepção visual do filme, bem como a direção de arte, tentam inovar demais e acabam criando uma versão real-action dos Cavaleiros do Zodíaco, nas cenas de morte estão lá todos aqueles diálogos afetados sobre honra e coragem e "eu paro aqui mas a sua jornada continua blá blá blá...", o monstro final que é ridicularmente grande (ok, ele é um titã, mas não precisava ser tão grande a ponto de poder ser considerado um lugar) que sempre morre de uma maneira vergonhosamente fácil, etc. A cena da morte da Medusa foi legal, mas acaba se afogando num mar de falas sofríveis, como a de Perseus antes de entrar na caverna da besta dos cabelos de cobra e olhos petrificantes: "Don't look that bitch in the eyes!" ¬¬ Sério? Uma saga grega? Don't look that bitch in the eyes?! Eu mereço isso?!

Não... fora outra coisa profundamente irritante é que todas as estórias de língua não inglesa, em todos os lugares da europa, em qualquer período, só se fala inglês britânico. Se a estória se passa na Segunda Guerra Mundial só com personagens alemães, na Itália renascentista, no extremo norte gelado, ou na Grécia dos deuses e titãs, não importa. Todos falam com um inglês londrino indefectível.

Por isso, amigos, resolvi fazer um guia para vocês que, de tanto bocejarem diante de todos os Arthur's e Hercules' da vida, resolveram fazer o seu próprio épico.


Primeiro de tudo, você precisa do herói. Ele precisa ser jovem e ainda não estar no topo da carreira. Isso é importante, pois o mainstream precisa de "carne nova" para ser a cara de um blockbuster. Esse rapazinho é teimoso como uma mula, tem um senso de correção moral de titânio e raramente sorri. Ele é meio grosseirão, mas é capaz de morrer por um grupo de caras que ele acabou de conhecer.


Toda essa retidão de caráter, ele herdou do seu pai, que era um trabalhador braçal muito humilde e muito obstinado a dar uma boa vida à família. Geralmente sorridente e até um pouco ingênuo, sempre morre tragicamente, o que pode ser a grande motivação para o personagem principal enfrentar horrores incalculáveis.





Falando nisso, o vilão precisa ser absolutamente imprevisível. Ele fala calmamente, se move gentilmente e nunca se exalta. Este é um personagem difícil, pois por alguma razão, sempre se espera dele uma grande novidade visual e estlística. Nunca do herói. E em Clash of Titans, ele está bem legal. Nada extraordinário, mas a concepção do personagem é muito boa. As cenas dele surgindo e indo embora são grande parte da graça do filme.



A guerreira sexy e ousada também é importante. Há sempre uma tensão sexual entre ela e o herói, que não vai dar em nada, porque um deles vai morrer. Provavelmente ela. Ela é mais madura e tem sempre ideias melhores que o herói, o que o irrita. Toda voluptuosa, ela não é nada indefesa e sabe lutar, ao contrário da...




... princesa delicada. Essa moça chora. Ponto. Ela derrama rios durante o filme todo. Tem que ser played por uma atriz que dá nojo de tão linda e que tenha cara de boa moça. Ela geralmente encerra boa parte das motivações dentro da trama. No caso de Clash of Titans, nem tanto, mas na maioria dos épicos, galáxias se evaporam por causa dela.




Ao lado do herói, está o guerreiro badass mal-encarado e rude. O início do relacionamento deles é sempre péssimo, e você é forçado a sentir antipatia por ele. Não se engane: apesar de ter sido obrigado por algum superior a empreender essa batalha ao lado do herói, no decorrer do filme, esse lutador mais experiente e técnico se fragiliza com a causa e se revela um grande homem, blá blá blá... e geralmente morre (sempre com muito estilo) para salvar a pele do herói, que honrará seu trágico fim.



 Ao lado deste, um guerreiro atrapalhado, fanfarrão e/ou beberrão, ou no mínimo, menos compenetrado que os outros, que é o caso deste da foto. Ele será o alívio cômico da trama, lutando de maneira atrapalhada, fazendo piadas incovenientes, dormindo de boca aberta, ou mostrando a bunda para uma criatura de 10 metros. Geralmente é ele quem diz "Oh, shit" quando um grande perigo apareçe.



Sendo levado de brinde com o bando, está lá um garotão estabanado que é pura paixão. Louco por adrenalina, ele faz algumas m***** que comprometem a segurança do grupo. Geralmente fala muito, e é aquele que "tem cara de quem vai ser o primeiro a sambar" desde o início do filme. Não raro, o sentimento paterno que o herói cria por este abestalhado não será o bastante para tirar o dele da reta.





Algumas outras figurinhas tarimbadas são bastante frenquentes também, mas são secundárias e portanto, opcionais. Mas se você quiser acrescentar o companheiro animal do herói, ou o mosntro/criatura hostil que acaba se tornando amigo do grupo logo no início do filme, ou o sub-vilãozinho chato que fica aparecendo inúmeras vezes fazendo você dizer "puts, de novo esse cara? mata logo!", ou o louco morimbundo que grita profecias no meio da rua, ou mesmo o pai da princesa (geralmente, um coroa chato metido a eloquente e que só fala/faz bobagem), fique à vontade - o épico é seu.

Só lembre de colocar um nome legal no seu filme, e nada como Clash of Titans, num filme em que apareçe apenas 1 (um) titã que por sinal não luta contra outro em momento algum. Mas também, eu assumo minha culpa - me desculpe Louis Leterrier, mas o que é que eu podia esperar de um cara que já fez pérolas como O Incrível Hulk e Cão de Briga? Respondendo a pergunta lá do 2º parágrafo, eu mereço, sim. Eu mereço.  :\